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Etapas da Globalização e seus efeitos sobre a Missão - ad Gentes

 

Nos últimos 600 anos ocorreram 3 etapas/fases de globalização, cada uma com avanços tecnológicos próprio, com efeitos distintos sobre o modo de entender a Missão ad gentes, tanto no seu embasamento bíblico quanto  em relação aos seus destinatários. Podemos representar as etapas assim:


1ª Etapa: - Século 16, época dos descobrimentos.
- novos instrumentos de navegação e barcos maiores e mais estáveis permitem que portugueses e espanhóis viajem pelo mundo.
- o mandato missionário era baseado em Lucas 14, 23 onde se Le que o Senhor prepara um banquete e pede para seus servos chamarem todos para entrar. A Companhia de Jesus (Jesuítas) assume esta tarefa. A Missão ad gentes era para o outro distante.


2ª Etapa: -  Período de 1850 a 1914, domínio da Europa sobre as colônias ao redor do mundo.
- uso de motores a vapor, telegrafo e telefone encurtam as distâncias.
- o mandato missionário que ainda predominava era baseado em Mateus 28,19-20: Ide  e evangelizai todas as gentes. Surgem os Institutos Missionários voltados principalmente para a África e a Oceania. A Missão ad agentes era voltada para povos considerados primitivos e exóticos e os missionários eram figuras heroicas que enfrentavam uma longa viagem, doenças e hostilidade do povo local.


3ª Etapa: - de 1980 até hoje, os países reúnem várias etnias e raças ( ondas migratórias) e economia interdependente.
- transporte aéreo e avanço tecnológico, principalmente nos meios de comunicação. No século 16, a carta que Francisco Xavier escrevia do Japão para Inácio de Loyola na Europa demora 18 meses para chegar. Hoje, com a internet tudo é simultâneo.
- o mandato missionário baseia-se em Lucas 4, 18-19 quando Jesus cita Isaias dizendo que veio trazer liberdade aos cativos. Missionários de diversos países anunciam o Evangelho no mundo todo. Atualmente, a nação com maior número de missionários é a Coréia do Sul. A missão ad gentes agora é caminhar junto num caminho de inculturação, diálogo e liberdade.

 

O significado Ad gentes

No Antigo Testamento, há os judeus e os outros (goy/goyin em hebraico e gentes em latim). 
Já no Novo testamento há os judeus, os seguidores de Cristo (cristãos) e gentes/goyim para todos os outros como gregos, partos medos, etc...
S Paulo fala na Carta aos Efésios 2, 12-20 de uma família/povo reunida no sangue de Cristo, conceito que irá aparecer novamente no Concílio Vaticano II:  “ Igreja como povo de Deus”.


Se no século 16, os não cristãos/pagãos eram vistos como seres dominados pelas trevas ou parcialmente humanos, que viviam em estado primitivo (havia dúvida se os índios tinham ou não alma), na Lumen gentium, no parágrafo 16, a relação com os não cristãos/pagãos não é mais vista como uma oposição, pois reconhece que eles também fazem parte do plano de salvação de Deus.


Hoje, do ponto e vista teológico podemos dizer que como vemos o outro reflete, na realidade, como nos vemos. Se somos criados a imagem e semelhança de Deus trino, o nosso ‘ser’ só pode ser compreendido em relação, em comunhão com Deus e o outro. Esta relação eu/Deus/outro é frequentemente ressaltada pela teologia ortodoxa.


Concluindo, a Missão ad gentes no mundo globalizado está numa fase de reflexão principalmente em 3 aspectos:

  1. A crescente importância do espaço social no lugar do espaço físico.
  2. A substituição do ‘território’ da Missão pelo conceito de ‘areopagos’ ( pontos de encontro  de evangelização de caráter provisório, um bom exemplo são as Jornadas da Juventude)
  3. A necessidade de ver os não cristãos/pagãos de nova maneira, como parte do plano de salvação de Deus.
    (RMC, 08/2013)

 

BOSCH

David J. Bosch, em seu livro LA TRANSFORMAZIONE DELLA MISSIONE, Mutamenti di Paradigma in Missiologia, discute o modo com o qual a Igreja cristã interpretou sua missão através das épocas e a transformação da Missão. Segue a subdivisão histórico-teológica de Hans Kung(1984, 25), que propõe a história do cristianismo vista como composta por seis paradigmas (p.258):

1. Paradigma apocalíptico do cristianismoprimitivo.

2. Paradigma helenístico do período patrístico.

3. Paradigma da igreja romano-católica medieval.

4.Paradigma (da Reforma) protestante.

5. Paradigma moderno do Iluminismo.

6. Paradigma nascente ecumênico.

Da leitura emerge o quanto a humanidade buscou, busca e ainda buscará A Deus, com esforço e fragilidade. As inúmeras tentativas, cheias de força e virtude, mas marcadas pelo contexto de cada época vivida são apenas aproximações. O PROBLEMA, no entanto, é que "PARADIGMA" parece ser rejeitado hoje em dia por questões diversas, inclusive a de "ruptura".

Além disso, Bosch apresenta conceitos, que para leigos como esta pessoa que agora escreve aqui, são luz. Abaixo estão escolhidas alguns pequenos trechos, do início do livro de 800 páginas, que chamaram-me a atenção. Caso o leitor se interesse, pede-se comunicar por email ou brevemente pelo Forum (em construção).

1. A igreja que é chamada para fora do mundo mas simultaneamente é enviada ao mundo (p.27).

2. A missão é participação na existência de Deus nomundo.(p.26)

3. A nossa praxis missionaria... é um empreendimento ambivalente realizado no contexto de uma tensão entre a providência divina e a confusão humana. (p.24,5)

4. Nas religiões dos vizinhos de Israel, deus está presente no ciclo eterno da natureza e em determinados lugares de culto. Em Israel, no entanto, é a História que constitui a arena da atividade de Deus.

5. Deus se empenha no presente a envolver-se nas vicissitudes de seu povo ... as festas... as celebrações ...são algo maior do que uma mera ocasião para se recordar; são contemporaneamente antecipações do futuro co-envolvimento de Deus nos reveses de seu povo, do Deus que precede o seu povo. (p.35)

Há um trecho especialmente interessante, na primeira parte do livro, na qual autor destaca Modelos de Missão - Novo Testamento. Está no capítulo segundo, 'MATTEO: LA MISSIONE COME "FARE DISCEPOLI", no subtítulo 'Matteo e la sua comunitá', págna 90:

"Non tutti, nella comunitá di Matteo, sono d'accordo sulla direzione da prendere nel frangente in cui si trovano. Alcuni sottolineano l'importanza della fedeltá financo alla più piccola lettera della Legge; altri affermano di possedere lo Spirito, mediante cui compiono miracoli (cf. Friedrich 1983, 177). Con il suo remarchevole stile pastorale e con l'ausilio di un approcio dialettico, Matteo mostra, sulla base della tradizione di Gesù, che entrambi i gruppi hanno ragione... e allo stesso tempo torto. Ciò spiega fra l'altro, le molte apparenti contraddizioni del vangelo. Matteo non fraintende le differenze, ma guarda al di là di esse. In questo modo, prepara la strada alla riconciliazione, al perdono e all'amore reciproco nella comunità; e sembra suggerire che la confusione, la tensione e il conflitto che ne contrappongono i membri gli uni agli altri possono essere superati soltanto congiungendo mani e cuori in uma missione ai gentili in mezzo a cui vivono (La Verdieri - Thompson 1976, 574)".

Lendo, eu entendi que nem todos, na comunidade de Mateus, estavam de acordo a respeito da direção a ser tomada na situação, próxima de ruptura, em que se encontravam. Alguns sublinhavam a importância da fidelidade estendida à menor letra que fosse da Lei; outros declaravam possuir o Espírito, mediante o qual realizavam milagres. Com seu marcante estilo pastoral e com o auxílio de uma abordagem dialética, Mateus mostra, à base da tradição de Jesus, que ambos os grupos têm razão... e ao mesmo tempo não têm razão - o que explica entre outras coisas, as numerosas aparentes contradições do evangelho. Mateus não falha em sua compreensão quanto às diferenças, mas olha para além delas. Desse modo abre caminho para reconciliação, perdão e amor recíproco na comunidade; e parece sugerir que a confusão, a tensão e o conflito que contrapõem os membros uns aos outros só podem se superados conjugando mãos e corações em uma missão aos gentios em meio aos quais vivem.

Esta, que escreve agora, percebe a realidade da Igreja de 2013 no Brasil semelhante à da comunidade de Mateus: nem todos estão de acordo em relação à prioridade da missão; têm razão... mas ao mesmo tempo não têm razão; há tensão que contrapõe.

PERGUNTO:

como olhar para além, como abrir caminho para reconciliação, perdão e amor recíproco, como conjugar mãos e corações em uma missão - hoje em dia?

Senhor Deus! Concedei ouvirmos Vossa voz.

(MBFS, setembro2013)

 

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